sábado, janeiro 26, 2013

To the sea

Era exactamente meio dia. A hora certa. Verdadeira indicao de preparação o que e dada pela pontualidade a que a hora se adequa. A esta hora ele ja tinha descido os 500metros do trilho íngreme que leva a praia deserta, escondida pelo abraço das arribas e calmamente embalada pelo oceano. Longe dos pescadores, e dos bares de praia o silêncio domina. Apesar das amenas temperaturas de Primavera, o sol é incapaz de furar o nevoeiro lúgubre que se instalou, impedindo que os seus raios quentes, dadores de vida toquem a areia brilhante. E um dia escuro mas encantador, e um mar calmo e convidativo. Ele aproxima-se da arriba e para junto a uma rocha que lhe da pela cintura. Lambida por séculos de tempestades, a rocha e lisa e sem imperfeições. A corda que a envolve, sem dúvida réstias da ancoragem de um barco antigo, conta uma história: talvez amantes tenham estado naquela praia, em dia de maré; cheia, com a lua a iluminar o recanto escondido. Um breve sorriso ilumina-lhe o rosto enquanto imagina as sensações que foram sentidas a luz da lua. A medida que o sorriso morre, as roupas saem-lhe do corpo. Cada peça é dobrada cuidadosamente e delicadamente pousada no topo da rocha para ali permanecer ate que o mar aumente de novo e a entregue aos seres subaquáticos. Vira-se para o mar. Respira fundo. Começa o movimento em direcção ao calmo e frio oceano. Os pés são rapidamente embalados pelas ondas e o toque da agua nos seus joelhos faz um arrepio de frio percorrer o seu corpo nu. Levanta-se a pele que sabe o que a espera. Passos decididos levam-no para mais próximo das profundezas. A água chega-lhe pela cintura. Um mergulho rápido e decidido leva-o mais longe. Com a cabeça a entrar primeiro evita-se a dúvida e o pensamento no acto, que obscurecem as certezas e afligem as decisões já tomadas. As sensações passam e o som do fundo do mar sente-se no cérebro, estabelece a ligação entre o homem e os seres que cantam, la longe, em busca de companhia. São cantigas de solidão de quem percorre o mar em todas as direcções a preencher um destino estabelecido e inescapável. Duas braçadas fortes. Aqui já não há indecisão. O pé já não toca na segurança do fundo. Duas braçadas e a praia fica cada vez mais distante, não o suficiente. Duas braçadas e levanta-se a cabeça para respirar. Duas braçadas e uma onda bate-lhe no rosto. É o grito do mar a pedir para não avançar. Duas braçadas, a água cada vez mais fria. Duas braçadas, e um peixe acaricia-lhe o corpo. Duas braçadas, um grito desesperado de ajuda já não seria ouvido na margem. Não que ele a queira. Já não há retorno. Duas braçadas. O nevoeiro já não deixa ver as arribas. Já não se vê o brilho dourado da areia. Agora é só ele e o mar. Nada mais. Verdadeira solidão. Duas braçadas, cânticos são cada vez mais fortes. Duas braçadas e o mar, obscuro e sinistro, torna-se azul-escuro debaixo do seu corpo. Ele pára. Não de cansaço, mas por saber que a distância e o isolamento são aquilo que ele procura. Endireita o corpo, olha para o nevoeiro  sua volta. Está na hora. Não quer chegar atrasado ao encontro que tem marcado. Mergulha de novo. Cânticos são agora ensurdecedores. Bate as pernas para chegar mais fundo. Abre os olhos. La no fundo há um brilho atractivo. E para lá que ele se dirige. E uma mulher. Uma musa escondida no profundo oceano. O seu vestido branco traz o brilho do sobrenatural. O ondular do tecido tem um charme que não e deste mundo. Falta-lhe o fôlego, e a musa dá-lhe um beijo doce e carinhoso. Glorioso momento. No seu encontro, não houve atrasos. Na superfície, o mar continua, sem distúrbios, a ondular. O tempo percorre o seu caminho. A roupa permanece na rocha. E as pegadas são apagadas pelo vento.

quarta-feira, janeiro 16, 2013

Sharing is caring

O facebook é uma ferramenta de partilha, que aproxima as pessoas e permite ligar os indivíduos que têm interesses semelhantes. Permite também manter o contacto com pessoas amigas e conhecidos.
Com o desenvolver da minha educação, cheguei à conclusão que as boas ideias não surgem por acaso. Quer seja a necessidade de ter uma ideia para um projecto, uma ideia de negócio ou um projecto DIY para os tempos livres. A inspiração para ter boas ideias surge da transpiração, do tempo passado a conhecer coisas novas e a alargar a base de interesses de uma pessoa.  A fazer pesquisa, a ler notícias, a subscrever newsletters interessantes e acima de tudo a lê-las diariamente e a analisar, por alguns momentos, por breve que seja, o conhecimento que é transmitido. Mas para mim não chega ter todo este conhecimento na minha cabeça! Quero partilhá-lo, quero discuti-lo, quero trocar opiniões com pessoas que têm os mesmo interesses que eu! Já estou cheio de tentar ter conversas de café em que se discutem as coisas mais banais e triviais, acima de tudo as fofoquices, quando há tanta coisa a borbulhar debaixo do meu escalpe! Novas tecnologias, novas descobertas! Geralmente, sou reconhecido com estranho, tenho todas as competências sociais intactas, mas cada vez me é mais difícil relacionar com as pessoas que não vivem a busca do conhecimento como eu. Nem precisa ser conhecimento científico, política ou economia são tópicos interessantes de discutir, De falar e partilhar. Estou cansado de não conseguir ter tópico de conversa quando falo em algo interessante e sou imediatamente mandado calar porque é de manhã, ou porque agora não me apetece, ou porque chega alguém e começa a fofoquice. Recuso-me a reconhecer que eu é que sou inepto, acredito que o ambiente é que não é o adequado. Por isso, vou começar a partilhar todas as notícias que encontro, e tentar puxar a discussão electrónica de tudo o que me fizer levantar as antenas! Sim,  vou dar largas ás ferramentas do facebook. Se alguém me responder, tanto melhor, se não expludo! Estou disposto a tentar. Quero perder este sentimento análogo ao Santo António a pregar aos peixes...

segunda-feira, janeiro 14, 2013

A Mão do Diabo - JRS

Foi recentemente que em tempo record fui capaz de acabar a mão do Diabo do José Rodrigues dos Santos.   Não é de ânimo leve que se começa a ler um livro daquele tamanho sabendo que o principal tópico será a crise e todos os motivos que nos levaram a este estado horrível das coisas. É na figura do Tomás Noronha e no seu estilo pseudo-aventureiro que o JRS nos descreve todos os passos que politicamente e economicamente nos fizeram caminhar para aquilo que ele refere como sendo a 2ª grande depressão. Durante toda esta descarga de informação ainda há tempo para algum mistério, um assassínio e algum romance. Felizmente, desta vez não houve nenhuma angolana-sueca para me fazer colocar as mãos na cabeça e tapar os olhos durante uma cena de sexo que pode ser descrita como algo capaz de arrancar gargalhadas à pessoa mais séria e desprovida de humor. Mas voltando ao cerne da questão, já que este é um texto acerca da crise vista por um dos autores portugueses mais lidos do séc XXI: a personagem do Tomás Noronha, este Robert Langdon versão portuguesa, explica-nos toda a conjuntura essencial. Desde a desregulação dos bancos de investimento e bancos comerciais, permitindo que os primeiros favoreçam os investimentos de risco tendo como base o dinheiro das pessoas trabalhadoras que fielmente depositam o seu dinheiro nas suas contas. Enquanto isto acontece os baixos juros de empréstimo e os baixos requisitos necessários para a contracção de empréstimos aumentam em muito os riscos que os bancos têm ao emprestar dinheiro! Associado a um conjunto de factores, na qual o principal é o rebentar da bolha imobiliária, temos um cocktail explosivo! Isto aconteceu nos USA, entretanto, na Europa, forma-se a União Europeia forma-se a zona Euro como a conhecemos hoje. Países como Portugal e Grécia entram nesta União, e protegidos por esta moeda forte pedem emprestado aos bancos com juros baixíssimos! A Grécia pecou pelas mentiras que disse para entrar na Zona Euro, Portugal, país em plena recuperação económica investiu em obras públicas com fundos europeus e dinheiro que não tinha! O resultado está à vista: quedas extraordinárias na produção de bens transaccionáveis e um grande número de PME's a fechar! Para que isto acontecesse o autor explica-nos muito bem como TODOS são culpados desta crise. Vá, todos é exagerar, as pessoas trabalhadoras que em nada se relacionam com política não podem ser culpados! Pessoas que votam, mas que nem assim se lhes pode apontar o dedo, já que o que acontece é corrupção pura e dura! Vou elaborar: é um ponto crítico e fundamental deste livro sabermos que o sistema político português, como muitos por esse mundo fora, se baseia em partidos. Estes partidos recebem os seus fundos de privados, algum do estado, mas principalmente de pessoas ou colectivos interessados em algo, portanto, com agenda política, não dando o dinheiro sem algo em contrapartida. Por um lado, ao chegar ao poder, um partido político encontra-se "moralmente" obrigado a favorecer aqueles que contribuíram para a sua campanha, permitindo que a adjudicação de obras públicas seja realizada sem real competição, porque sejamos sinceros, Deus livre que uma obra pública seja adjudicada à melhor opção! É um sistema corrupto e viciado.  O melhor exemplo são as PPP, que para mim significam: PURE PRIVATE PROFIT. Traduzindo por miúdos: os privados constroem e exploram uma estrada. Se a estrada não dá lucro o contrato das PPP prevê que o Governo irá canalizar dinheiro dos contribuintes para tornar o investimento, que devia ter risco partilhado, de novo rentável para quem explora o imóvel. 0 risco para o privado, os "Boys", 100% risco para o público. No meio de tudo isto, os alemães, que hoje advogam um sistema de austeridade e controlo das finanças desdobravam-se em contactos pela porta do cavalo para que coisas como o TGV, e os submarinos, fossem adjudicados a empresas alemãs. Desta forma, grandes engenharias iam sempre parar ao estrangeiro. Isto em troca de fundos comunitários e apoios para Portugal. Parece bonito, mas é preciso lembrar que o que os fundos comunitários não pagavam, pagávamos nós, em obras que não tinham real interesse público. Os banqueiros portugueses e também da Europa Central, que se viam protegidos pelo Euro (juros baixíssimos e supostamente muito baixo risco) faziam pressão política para que estes investimentos acontecessem, colhendo, desta forma, a sua parte. Está na panela o suficiente para fazer uma implosão do sistema económico português, causada pela incapacidade do país em pagar aquilo que pediu emprestado. Mas nem só de explicação das causas que deram origem à situação vive o livro. No final surge uma questão muito importante: já estamos assim, como podemos sair? A resposta é muito clara num ponto, e deixa o leitor tomar a sua própria decisão noutro. Primeiro, é extremamente importante reduzir o custo do trabalho português para que os produtos nacionais sejam mais competitivos a nível global. Este ponto é indiscutível. O que é debatível é o seguinte: será que a saída do Euro vai permitir uma recuperação mais rápida de Portugal e colocar-nos no caminho certo? Ou será que é melhor continuar sob esta relativa protecção e esperar por tempos melhores? Em ambos os casos o caminho para a recuperação é árduo e tortuoso, e pode até nem existir uma solução, momento em que o apocalipse económico se abaterá sobre nós tornando-nos na Argentina europeia.